Sunday, December 30, 2007

História da língua chinesa

"Chinese is generally considered a difficult language. It is."

Hoje comprei um livro que estou adorando ler. Chama-se "The Chinese Language - Its History and Current Usage", de Daniel Kane (A frase do começo é a primeira do prefácio). A parte do current usage nao me interessou muito, mas a parte da historia é demais. Tantas dúvidas que já tinha faz um tempo estou tirando só agora.


É que nesses meses que estive aqui me apareceram várias dúvidas sobre a língua chinesa. Mais que mandarim, mais que putonghua, pouco a pouco percebi que língua chinesa é muito mais do que o que estou aprendendo no momento.

Minhas dúvidas foram aparecendo, primeiro por causa da língua cantonesa (falada na província de Guangdong, em Macau e em Hong Kong). O cantonês tem alguns caracteres exclusivos, ou seja, que não existem em Mandarim. Em cantonês várias sílabas terminam com consoantes "afiadas" como 'k', 'p' e 't', totalmente diferente do mandarim que quando termina com consoante termina "suave", com 'n' ou 'ng'. Cantonês tem 9 tons, e pensando sobre isso agora, os tons do mandarim parecem incrivelmente fáceis. E cantonês é mais antigo que mandarim. Além de que vários outros dialetos também existem.

Mais dúvidas me surgiram com caracteres como

父 e 爸. Uai, ambos significam pai, sendo o segundo o primeiro adicionado de 巴.
舟 e 船. Ambos significam barco, o segundo também sendo o primeiro mais dois elementos.

O uso de dois caracteres para dizer uma palavra também me intriga.

波浪. Ambos os caracteres significam onda. Por que não usar só um?

O uso dos caracteres chineses na língua japonesa também é totalmente diferente. Se você pegar um livro texto de chinês feito para japoneses, num esquema chinês - pinyin(pronúncia) - japonês, vai ver que a tradução para o japonês usa ocasionais kanjis que não coincidem com a palavra usada em chinês para se dizer a mesma coisa.

Hoje em dia me parece meio óbvio, mas fiquei meio perplexo quando percebi que língua chinesa, mandarim e caracteres chineses não são uma coisa só. A escrita chinesa é mais que um conjunto de caracteres. É um gigantesco sistema de escrita. Um sistema semântico, quase independente de como se pronuncia ou mesmo de como se usam os caracteres.

Algumas descobertas tiradas do livro:

Textos datados de mais de 3000 anos atrás podem ser lidos e traduzidos com incrível precisão semântica, e muitos desses caracteres de 3 milênios ainda são usados hoje em dia!

Quanto aos dialetos, de fato mandarim como estou aprendendo é uma parte bem pequeninha do que se pode chamar de língua chinesa no tempo. É uma padronização, uma compilação, uma convenção começada apenas no século 20. Antes disso... ai, quanta coisa...
As sílabas terminadas com consoantes "afiadas", como no cantonês, existiam nas línguas das antigas dinastias. E os caracteres usados em pares para se dizer uma coisa só não eram usados dessa maneira no chamado Chinês Clássico (que também só descobri hoje o que é: aparentemente a língua da dinastia Zhou, ou apenas a estrutura de uso dos caracteres; a estrutura dos poemas, dos textos clássicos)

Quanto às consoantes "afiadas", eles eram comuns na língua antiga, e até mesmo em variações do mandarim ainda usadas.

A aparente simplicidade dos tons do mandarim é explicada por ser na verdade fruto de padronização. Em vários lugares esses tons são ditos de forma totalmente diferente.

Estou muito feliz com a minha compra. Hoje pulando algumas partes já estou na página 90. Faz tempo que não leio alguma coisa tão rápido...
para os que chegaram até aqui no post... Encerro com uma frase sobre o livro com a qual me identifico completamente:

"It does not pretend that there is anything easy about learning Chinese - the fascination of Chinese lies in its complexity"

Friday, December 28, 2007

China - A longa viagem

Hoje às 4 da tarde cheguei aqui em Macau, de onde escrevo... dia 28, sexta feira. Dia 15 pegamos um ônibus em Zhuhai para Guilin. 13 horas depois, manhã do dia seguinte, encontramos Mike, que foi nosso guia até o fim da estada na província de Guangxi. Visitamos o antigo palácio do príncipe-governador de Guangxi, dinastia Ming, acho. Depois pegamos um barco para Yangshuo, descendo o rio Li, para ver a magnífica paisagem... Que frio...
Em Yangshuo, mais que em Guilin, se vê lindos picos rochosos para todo lado. Explorar a redondeza, principalmente as vilas rurais de bicicleta foi uma das jornadas mais lindas que já percorri. A província também é a terra de várias minorias étnicas da China, e a cultura desses povos é muito interessante...
De volta a Guilin, pegamos um ônibus, supostamente de 20 horas para Xian. A viagem durou 25 horas. Não preciso dizer o quanto exausto fiquei depois disso... a dexisão de ir para Xian foi um pouco precipitada, mas uma boa decisão. Meu plano inicial era encontrar uma outra amiga e ir ver um "pouquinho" mais de minorias étnicas, de China antiga e de cenários naturais na província de Yunnan. Falhas de comunicação, e já estava em Xian quando ela finalmente decidiu ir... tarde demais.
Xian não me parecia tão interessante, porque os guerreiros de terracota seriam uma experiência de hora e só, não contínua. Mas me enganei. Não quanto aos guerreiros, mas sim porque Xian é uma cidade muito antiga, contendo muito mais do que só os guerreiros. Gostei muito de andar pelas ruas, cheias de majestosos edíficios em estilo tradicional para todos os lados. A cidade além disso ainda é circundada pela antiga muralha, e por um fosso. Acho que muitos já sabem do meu fascínio por fortificações antigas...
De Xian, 5 horas de trem até Luoyang, para visitar o templo Shaolin. Foi aqui que as dificuldades de linguagem foram mais críticas. 'Low season' (putz, que frio que estava lá...) para o turismo resultou em massas de taxistas, vendedores e agentes de turismo em cima da gente (grrrrrrr!!). Acabamos meio sem querer no meio de um grupo de turistas chineses, e fomos para um bando de lugares que nem sabíamos o que eram... A montanha SongShan, só descobri depois, é uma das montanhas mais sagradas da China, cheia de lugares sagrados budistas, confucionistas e taoístas... dentre os quais o templo Shaolin... aiaiai... é um lugar para se ver com muito mais calma, não em 4 horas.
Mas... como natal não tem muito a ver com budismo e kung fu, tudo estava planejado para chegarmos em Shanghai no dia do Natal. De Luoyang, 16 horas de trem até Shanghai. Shanghai, assim, como os detalhes das outras localidades, ficarão para um próximo post... De Shanghai 17 horas de trem para Guangzhou, depois 3 horas de ônibus para Zhuhai, cruzamos a fronteira e chegamos finalmente exaustos no nosso confortável lar, ainda temporário mas mil vezes melhor que um leito de trem...

13 dias
85 horas em ônibus e trem
5 cidades

Monday, December 10, 2007

Estudando Chinês 2 - Pronúncia

Acho que para se habituar aos sons de uma língua "não-tonal" você passa por duas fases: uma em que você ainda não sabe direito como é cada som, e outra em que você já aprendeu e consegue ler compreensívelmente um texto em voz alta mesmo sem entender o que ele diz.
Bom chinês tem algumas fases a mais, hehehehe... Vou descrever as que passei até aqui:

Na primeira, você está completamente perdido: "heh?!?" ; "como?" "hein???" "eita!!" "que loucura é essa?"

Na segunda, você consegue diferenciar os tons se alguém te falar um por um devagarinho... mas nem em pensar em conseguir falar direito!

Na terceira, você consegue falar os tons um por um por si só! Mas vai tentar ler qualquer frase que for, e sai tudo embaralhado!

Na quarta, você consegue falar as frases sem conectar as palavras, ou seja como se você estivesse falando cada palavra independentemente. E também a reconhecer os tons que as pessoas falam. A partir daí você começa a conseguir se comunicar...

Na quinta, você percebe que as línguas "não-tonais" usam tons sim senhor! Só que usam para demonstrar emoções. O que significa: tirar toda emoção do que você diz ao falar chinês. Depois você põe de volta... até lá tenha paciência

Na sexta, você começa a reconhecer vários "padrões" de tons dentro de cada frase. Por exemplo, você sabe que 4 "terceiro-tom" seguidos vai soar de um jeito, sem precisar falar as 4 palavras uma por uma separadamente... Com isso você começa a conseguir falar as frases básicas já muito bem, sem precisar pensar para por o tom certo na língua...

Numa sétima fase, você começa a estender e aplicar esses padrões em frases mais compridas...

E essas são as fases que passei até aqui... Deve ter mais algumas pela frente...

Sunday, December 2, 2007

Hong Kong I

Ontem e hoje fiz minha segunda visita a Hong Kong. Logo de cara, apesar de não ter visitado nenhuma ilha além da própria HK Island como da outra vez, me lembrei do que mais tinha gostado: do mar. Não foi preciso ir longe, foi só sair do ferry, e já tive a vista abaixo:Sempre tinha ouvido falar de Hong Kong como uma metrópole maluca. O que é bem verdade... mas não esperava que um certo "apesar" aparecesse tantas vezes durante minha primeira visita.("Apesar" da velocidade dos negócios, da altura dos edifícios... o céu azul, e um par de pedras a beira de um lago em Hong Kong Park: perfeito para relaxar)


Pegando um ferry....



Deixando a Hong Kong skyline para trás....










Passando por vistas como essa...








...Chega-se em Lanma Island, uma ilha de pescadores cheia de restaurantes de frutos do mar, completamente diferente de onde estávamos alguns minutos atrás...




Sim, Hong Kong é tudo o que dizem... "apesar" de que definitivamente cidade fervilhante não é tudo que há a respeito daquele lugar.

O que não significa que a cidade não seja realmente impressionante...



É só olhar para cima...











Essa é a vista que se têm do Victoria Peak. A subida é bem legal, pega-se um bonde que sobe incrivelmente inclinado. E lá em cima tem a loja oficial da EA games, com vários consoles e PCs com jogos de graça... hehehe... Há também um Madam Tussaud's, com estátuas do Jackie Chan e do Bruce Lee.
Visual Pollution? Well anyway, it's nice...

Wednesday, November 28, 2007

Alto de Coloane

Hoje o post era para se chamar "A Estátua de A-Ma". Porque antes de ir ver essa estátua sabia que ia ter que andar uma boa subidinha... e só. Não sabia do mini-zoológico, dos museus agrários, das trilhas, das áreas de lazer, dos mirantes, dos esquilos e principalmente do templo "sem nome..." (pq não achei nenhuma informação sobre ele).
Bem longe dos cassinos, Coloane é um lugar bem interessante... Hoje foi apenas a quarta vez que fui para lá. Fazia um tempo que eu não ficava tanto tempo cercado de mato. É incrível a diferença que faz. Me deu saudade do sítio, e do interior de São Paulo... (Pacífico: a vista se perde tentando distinguir a linha do horizonte...)
Fiquei muito impressionado com o templo que fica logo antes do final da subida e da estátua. Ele é muito pouco citado, comparado com o Templo de A-Ma, o Templo Kun Lam e um outro templo em Coloane que já esqueci o nome de tão mixuruca que achei... Fiquei com várias dúvidas sobre esse templo porque ele tem um nível de detalhes e riqueza de visuais que já tinha desistido de procurar na China (por já ter estado em Beijing), quanto menos em Macau. Fiquei pensando que talvez esse templo tenha sido construído recentemente, e por isso tantos detalhes e relevos bem preservados.














O templo tem um formato retangular que lembra o do Templo Zu Lai, com um grande Salão de culto no centro, e edifícios laterais de dois andares com sacada. Me deu saudade de lá também...

E finalmente, a estátua da deusa A-Ma. Foi o final do dia, bem como tinha me programado. Pelo que li, a estátua foi construída toda em jade branco da melhor qualidade. Por causa do significado histórico, estando a deusa intimamente ligada à identidade de Macau ( deusa protetora dos navegadores e pescadores - vila fundada por pescadores / Macau, nome ocidental, possivelmente adaptação de A-Ma Go, significando baía da deusa A-Ma em cantonês), a estátua foi construída no ponto mais alto de Macau. Um bom lugar para ver o pôr-do-sol, pensei. "I want to reach the statue by sunset". De fato, cheguei lá e em 10 minutos o sol se pôs nas montanhas da China. Decepção, a vista da estátua só dava para o Leste, o Pacífico, e para o Norte, a ilha de Taipa. Mas tudo bem, a caminhada foi boa, tendo eu descoberto (um pouco tardiamente) uma parte totalmente diferente de Macau.

Friday, November 23, 2007

A injustiça da banana

Anteontem abri uma caixa de bombons Garoto aqui no quarto para o Alexis (roomate) e a Chika (a namorada dele) experimentarem. Achei que eles podiam gostar, se bem que não seria nada comparado com os chocolates suíços, facilmente acessíveis para o Alexis (Alemanha), e que essa mania brasileira cabeçuda de tacar açúcar nas coisas seria demais para o delicado paladar de Chika (Japão). Bom... surpresa minha, eles adoraram.
A surpresa maior ainda foi no tipo de bombons que eles escolheram como favoritos... chocolate branco e.... bombom de banana! Verdade, banana seca no Brasil é um doce sub-valorizado... até aquele dia não tinha pensado um dia sequer em doce de banana. Estava mais ocupado com coisas como descobrir qual era a bebida mais diferente daqui, ou qual era o suco mais maluco (até hoje: vitamina+chá+raspadinha+salada-de-frutas+feijão-vermelho). E pensava: "nossa, vou sentir saudade de ir no supermercado e sempre ter mais uma coisa maluca para provar..." mas eita... tá cheio dessas coisas na Liberdade... e vê se eu encontro doce de banana aqui em Macau...

Wednesday, November 21, 2007

Studying Chinese

Today I collected 12 chinese words I know with the same, or almost the same sound: shi
They are:

事 (affairs),
是 (to be),
市(city),
世(world),
室(room),
視(-TV),
士,
匙 (spoon),
十 (ten),
時 (time),
師 (master),
獅 (lion)

One thing that took me a while to notice about learning chinese was about how chinese characters are not a difficulty, or something crazy you can only fear. They actually make things easier. First of all, it is pleasant and relaxing to write them. And most of all, it just feels right, when you learn to write a word, because then you know it is unique, and not just a bunch of phonemes that sound all the same. If you go to a class and the teacher says ok, shì means world, shí means time, shì means to be, room, tv... it would be scary for anyone... but if you know how to write each of these words, and see the pinyin only as a guideline, and not as the word itself... it all makes sense.
And the more words you know, the easier it gets for you to learn more. At least so far for me...

Tuesday, October 23, 2007

Macao, tiny place

I was pretty surprised one day when I was searching for Macao in Google Maps. I was expecting a visible small strap of land in South China that would turn out to be three islands, and then I would have found it. I searched and I searched, till finally I realized where it was; the sea between Macao and China is almost imperceptible, and you can't tell from a distance (of a satellite) that it actually is an island.(well, this image is from wikipedia... It seems Google map's terms of service forbids external use of its images, no matter the purpose, so.... no nice satellite photo for you - or you can try finding it by yourself, it can be fun. I live in Taipa island's waterfront, between Ponte Governador Nobre de Carvalho and Ponte da Amizade)
I hadn't realized before how long the Taipa - Macao bridges were. To have a better idea of how small Macao is, it takes around 5 minutes to cross the middle bridge by bus... And as you can see, this bridge is almost as long as Macau island itself!
I searched for information, and found that Macao has only 28.6 sq km land area, only around 2.6% Hong Kong's area. Another impressive number is the islands' population density: 17310 inhabitants per sq km! No wonder Macao buses are always full...

Thursday, October 18, 2007

Contrasts

"Aahhh....nothing.....................................
.............Actually, I was just wondering about all these crazy buildings around us. And about how obvious are all the changes that Macao has been running through. You see, that construction is very soon going to be a huge casino... and what surprises me the most are......aqueles dois singelos edifícios, enfurnados no meio dessas mudanças loucas, parados no lugar onde sempre estiveram... (~those two humble buildings, just living on with all the changes, just as if nothing happened)"
No matter how fancy the stores in the casinos are, how many international events may happen, Macao's identity seems to remain always the same, and all changes seem to be received and incorporated in a surprisingly harmonious way.

Thursday, October 11, 2007

A nightwalk in Macao

First of all, let's explain my motivations to write this text. I come from São Paulo, in Brazil. I think it's quite well-known, even abroad, for not being a very safe city... I don't use to take nightwalks in São Paulo... No, almost never...


Well, and something that drew a lot of my attention, and that I found very curious about Macao, is how safe it is, even in the darkest alleys, anytime between sunset and sunrise...

In our second day here, me and Olivia went from Taipa (where we live) island to Macau (main-island). We explored there till night, and like every prudent paulistano, decided to go home before 9pm. But, sad fact, none of us can read chinese... we took the right bus, but... wrong direction.
We stopped in a completely unknown place, and completely weird for us at that time. Dog race bets were being placed in the building beside us, and right in front, a street-market.

9pm, perfect time to buy fruit! Whoa, I was scared... The market atmosphere was completely isolated from the outside, completely different... It was a weird combination of colors and moods. The vivid colors of the fruits, the energy of the salespeople, but with that weak light, no other costumers around, and that such a weird end-of-the-day sensation you don't usually find in street-markets, but more likely in your tv room, right before you go to bed... when we got out of the market, once again, a completely different place...

By then, I was already so tired I can't remeber anymore how we got back to East Asia Hall... What I can remember is whoa, we walked a lot...


I was pretty scared in my first walk through the above alley.

"Follow me, I know a shortcut!" It was around 9:30 pm and we were returning from the supermarket when we decided to follow the girl, Yuna, who had been in Macao since the previous year. Mud, abandoned cars, and a "gutter moat" stood in our way.I take this shortcut pretty often nowadays... You can actually see people stopping around and chatting. Everyone uses it.

I just find it so curious... and fun... What about these abandoned cars? What about the huts in the way? Does anyone live there? This place looks miserable and abandoned, but the fact is, it isn't...


People and places here deliver such a variety of different moods and reactions to such different situations and scenes...


Yes, There is something about Macao...